A história da ocupação de Mariana está vinculada à expansão da busca de ouro pelos vicentinos no final dos seiscentos. A explicação sobre a sua origem tem para o historiador Diogo Vasconcellos uma data fundadora: 16 de julho de 1696, dia em que as bandeiras paulistas de Miguel Garcia e Salvador Furtado descobriram ouro em um rio que batizaram Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, bem ao espírito da tradição portuguesa de nomear a geografia dos lugares associado-os a de uma figura religiosa. Às margens do ribeirão cresce um povoado que iria abranger, com o tempo, os sertões dos rios Pomba, Muriaé e Doce, chegando às fronteiras do Rio de Janeiro, como explica Albino de Souza. Mariana foi a primeira vila criada na Capitania, e a única cidade colonial de Minas Gerais. Em 1745 foi ascendida à categoria de cidade, já que assumira a posição de sede do primeiro bispado de Minas. O essencial de sua economia advinha de um lado das receitas eclesiásticas e de outro da mineração aurífera. Nos primórdios de Mariana, assim como nas Alterosas, os bandeirantes iam erigindo os arraiais junto aos cursos d’água, perto dos locais onde as catas se mostravam mais promissoras, a princípio com caráter temporário, sob o signo do provisório, como diz o pesquisador Luiz Carlos Villalta. Assim, os núcleos urbanos mineiros coloniais não são obra do acaso. Antes, são inicialmente determinados pela atividade de exploração mineratória. A emergência da urbanização como resultado da atividade daqueles que, movidos pela faina da aventura, demandam o sudeste do continente à busca de riqueza rápida e que, tangidos pela incerteza, pela insegurança e pela instabilidade que os cerca na região, sentem necessidade de se agregar. Agregar-se para se confraternizarem social e espiritualmente e para tornar manifestas suas necessidades comerciais. A racionalidade do sistema produtivo adotado em Minas, isto é, a forma de exploração econômica aqui inicialmente introduzida, determinou a forma de organização social e do trabalho. As pessoas se congregavam nessas vilas e povoados em busca de atender às suas múltiplas necessidades, naquele ambiente de insegurança e incertezas, do que resulta uma sociedade marcadamente móvel e imprevisível em suas manifestações. A urbanização não foi iniciativa do Estado; é difícil imaginar como seriam feitas a ocupação e a dominação política da metrópole sobre a região mineradora sem um componente urbano tão marcante, como os que aqui se assinala. A exploração aurífera com os seus componentes de vigilância, de fiscalismo, tributário e de centralização política não podia prescindir de sólidos centros urbanos. Cabe, então, perguntar: quanto à vida econômica e social e às condições de trabalho dela advindas, o que notabiliza o fenômeno urbano mineiro colonial? Em primeiro lugar, deve ser salientado que esses aglomerados urbanos foram responsáveis pela introdução e pelo desenvolvimento de intenso mercado interno: tanto nos seus próprios limites, como no interior da capitania e, desta, com outras partes da colônia. Se a exploração aurífera foi o início, nem sempre e nem em toda a região ela foi a principal atividade produtiva. Para cuidar do abastecimento, simultaneamente à mineração, vai-se compondo diversificada estrutura produtiva. Intensas relações comerciais e expressivas produções agropastoril e manufatureira, caracterizada pela não inversão de grandes capitais e por baixos níveis de renda e poder de concentração, acabam configurando nítida economia regional, com ativo mercado interno. O sistema econômico urbano, diferentemente do sistema econômico de campo, centrou-se na produção e nos consumos internos. Assim, por exemplo, a partir da análise de estrutura populacional da Comarca de Vila Rica, que em 1776 tinha 78.618 habitantes (Maxwell), e da repartição de seus habitantes por setores produtivos, afirma Iraci del Negro da Costa que o caráter citadino da urbanização refletia-se particularmente, na presença altamente significativa das atividades vinculadas aos setores secundários e terciários, resultando daquele, o grande peso relativo a amplo aspecto coberto pelas ocupações artesanais. Mariana recebe a intervenção de um projeto do engenheiro militar José Fernandes Alpoim: “sua paisagem urbana seria formada por uma sucessão de praças diferenciadas (recurso utilizado nas realizações maneiristas e barrocas) e pelos edifícios, sobretudo os religiosos, revelando aspectos característicos da mentalidade barroca”, qual sejam, a preferência pelas curvas e contracurvas, visão em profundidade, gosto pelos contrastes claro-escuro, difundindo o catolicismo fora dos limites europeus e a crença nos valores e dogmas que foram refutados pelo Protestantismo, mas amplamente defendidos pelo Concílio de Trento, como: culto à Virgem, aos santos, Almas do Purgatório, o Sacramento da Penitência. Tributações se estabeleciam ao sabor dos descontroles como os “subsídios literários”, taxas cobradas sobre a produção de aguardente e gado de corte, cujo objetivo era sustentar o magistério régio. Vários tributos se agregavam como os “subsídios voluntários”, donativos solicitados para custear certas emergências do Estado, como o foi o de 1756, forma de contribuição para a reedificação de Lisboa, arrasada por terremoto em 1755. Instituído para ser cobrado por dez anos, em Minas ele continuou a ser cobrado após o prazo estabelecido, o que motivou a revolta e indignação dos mineiros. Vigilância, controle social e o descaminho são a outra face da política tributária. A concessão pelo Estado a particulares para a arrecadação de tributo transformou-se numa máquina de geração de lucros, pelo atraso e sonegação dos impostos, confusão fiscal em que a corrupção, a fraude, os privilégios de alguns se fizeram pelo sacrifício do contribuinte.

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