Dep. Dionísio Lins | 02/03/2018 | 14:16:46
Fonte: O Globo
Feira das Yabás movimenta mensalmente a economia e a cultura local (Arquivo) (Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo )

Feira das Yabás movimenta mensalmente a economia e a cultura local (Arquivo) (Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo )

A Assembleia Legislativa (Alerj) aprovou o projeto de lei que torna a Feira das Yabás um patrimônio cultural imaterial do Rio. O evento é realizado tradicionalmente a cada segundo domingo do mês, na Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz. Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador da atração, afirma que essa aprovação significa a possibilidade de renascimento para a feira, que passa por dificuldades para se manter de pé desde o fim do contrato fechado com a prefeitura. Após uma primeira discussão, o projeto voltou a ser debatido nesta quarta-feira e foi aprovado com 52 votos, em segunda e última discussão.

— A Feira das Yabás dá a identidade da região. Passei o dia inteiro tentando não pensar nessa votação, para não ficar muito ansioso. Que alegria estou sentindo agora. Agradeço profundamente à imprensa do Rio de Janeiro que nos ajudou e vestiu a camisa dessa causa junto com a gente — conta Marquinhos, bastante emocionado ao receber a notícia da aprovação.

Marquinhos revela que terá uma edição especial da feira em maio, como forma de celebrar os dez anos da atração, iniciada em 2008, e também de marcar os 130 anos da abolição da escravatura. Segundo ele, há ainda a chance de acontecer uma edição em abril. Marquinhos tem conversado com uma empresa privada que tem o interesse em ser patrocinadora do evento, que movimenta o entorno da praça, trazendo lucro para a região.

— As duas datas históricas aconteceram no dia 13 de maio, que neste ano cai exatamente no segundo domingo do mês. A liberdade religiosa sempre foi uma luta minha, e eu sei que a feira consegue englobar todo mundo. Ela traz a memória local.

Yabá, que quer dizer Mãe Rainha, é o termo utilizado no Brasil para definir todos os orixás femininos e faz referência às matriarcas das famílias da região. Segundo o deputado Dionísio Lins (Progressista), autor do projeto, a finalidade é a de manter uma tradição de nove anos de uma festa que leva cerca de 12 mil pessoas para a região, que inclui ainda o bairro de Madureira, outro importante reduto cultural.

— Além de festejar a cultura afro brasileira, a feira ainda tem como maior atração as rodas de samba e as barraquinhas de comidas típicas. Não podemos negar que a marca registrada do subúrbio carioca é o samba. Manter esse elo entro o antigo e o novo é ter a certeza de que a tradição será mantida pela nova geração que está por vir.

CULINÁRIA AFROBRASILEIRA

O governador Luiz Fernando Pezão tem agora 15 dias para sancionar o projeto. Em caso de veto, o texto volta para a Alerj, onde os deputados poderão derrubar o veto do governador e transformá-lo em lei. A Feira das Yabás, ou Tias, que oferecem comidas brasileiras com um toque africano, conta com 16 barracas, cada uma com sua especialidade culinária.

A feira, que costumava ter 12 edições por ano, em 2017 ficou menor, com quatro edições. Em novembro do ano passado, quando aconteceu a última edição, Marquinhos destacou que a realização das feiras contou com o apoio da secretaria de Cultura do município. Hoje, a secretária Nilcemar Nogueira destacou que a feira é um local de resistência.

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— Ali funciona um ponto de preservação de um dos mais importantes saberes tradicionais, a gastronomia do samba, mantida pelas zeladoras do nosso patrimônio imaterial. Além de movimentar a economia local de Madureira e dos bairros adjacentes, tem um valor simbólico imensurável — afirma Nilcemar.

A quituteira Rosimeire da Cruz de Alcantara, de 56 anos, lembra ainda que a edição comemorativa da feira coincide ainda com o Dia das Mães, o que a torna ainda mais especial para todas as matriarcas. Nascida e criada na região, ela trabalha há seis anos no evento e vende frango ensopado com quiabo, angu e arroz para os frequentadores.

— Que alegria saber dessa aprovação. Sentimos muita falta da feira, pulei de felicidade quando soube da volta em maio. Não é uma conquista só nossa, é de toda uma população local e também das pessoas que gostam da nossa cultura. É amor, é paixão, é um carinho enorme. Ficamos na expectativa e rezamos para que dê tudo certo.

 


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